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Não conheço melhor definição do trabalho do humorista. Fazer com que as pessoas se riam desta ideia: por mais que façam, vão morrer. Fornecer-lhes uma espécie de anestesia para esse pensamento. É um ofício belo, nobre, indispensável e inútil: sim, o riso tem o poder de esconjurar o medo, mas só durante algum tempo, talvez apenas durante o tempo que dura a gargalhada, às vezes, nem tanto.
Ricardo Araújo Pereira, “A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar: Uma espécie de manual de escrita humorística”, publicado pela Tinta da China
O Vaticano confirma o maravilhamento operacional que Jornada da Juventude exibiu, os nossos “cabeças-de-cartaz” políticos auto-congratulam-se do feito, os católicos participantes respiram dos ares evangelizadores que esta comunhão ao culto do Papa serviu, mas então e os restantes? Principalmente, os lisboetas, como estes sentirão? A partir de hoje, tudo voltou ao “normal”, o alfacinha ou o trabalhador comum dos mortais deixou de estorvar, saem do seu “teletrabalho” (grande parte deles foi imposto tal regime) e deleitam os transportes “normalizados”, lo trânsito infernal, o silêncio dos nossos governantes nas outras áreas (haverá retorno do evento?) e pelo extremo calor que incentiva o alerta vermelho. O país está na mesma, a saúde na ruína, os profissionais descontentes, a TAP continua um buraco, a desgovernabilidade mantém-se, os órgãos de comunicação voltaram a dar notícias, e a intolerância reverte os seus frutos. Ou seja, tudo normal, habitual aliás, de encolher os ombros, depois de uma semana utópica com benção ali e acolá (e muitos escuteiros), regressamos ao nosso país tal como era antes sem obras do Espírito Santo. Depois disto e com face voltada no Agosto fervente que nos espera, já poderemos voltar a indignar-nos? Se sim, vamos perguntar ao Estado o porquê de gastar 30 milhões num mega-evento religioso se somos, supostamente (sublinha-se), um Estado Laico. Se isto não vos indigna como indignam a mim, exercitamos por uma remota hipótese - o Estado gastou 30 milhões num evento da [inserir religião sem ser a Cristã], reforçou a cidade de transporte e serviços, o restante, que se amanhem.
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