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Como era esperado, até porque o movimento em si não é de total originalidade e Bolsonaro sempre fora uma cópia recalcada de Donald Trump, os "apoiantes" invadiram a Praça dos Três Poderes, em Brasília, proclamando a luta pelo Brasil que tanto “amam”, porém é a defesa de um país imaginário, delirante e autocrático e não o país real (multicultural e diversificado sobretudo). Há uns dias ouvi uma conversa entre dois brasileiros numa barbearia em Loures, um deles sugerindo a construção de um “Muro de Berlim” que dividisse o Brasil em duas metades. A conotação atribuída à ideia é fácil percepção ao lado politizado que iluminado se encontrava - “O Nordeste ficava com o seu Lula e comunismo, e o restante com o nosso Chefe Maior das Forças Armadas”. Pelo que vimos ontem, num rasto de invasão e destruição de “propriedade privada”, se calhar os bolsonaristas estão mais próximos dessas apontadas e infantilizadas características comunistas - “São deturpadores de tudo o que é privado”. Enquanto isso, como mencionei no meu segundo post deste blog, só temos que agradecer a Bolsonaro pela legitimação de uma massa disforme de ignorância e militância extrema em nome de uma figura messiânica e de ideiais que nada de "cristão" possuem. Terroristas? Claro que sim, e devem ser tratados como tal.
Edson Arantes do Nascimento, ou "Pelé" para o Mundo
(1940 - 2022)
Sabem o que é um trafulha? Vou-vos dar um exemplo perfeito - Alex Jones - fundador do Infowars, site que deseja equipar à legítima comunicação social norte-americana, promovendo-se com conteúdo conspiracionista, algo lunático, e com geografia à extrema-direita (alt right como sublinham os yankees), foi nessas instâncias que Kanye West recentemente pronunciou sobre a sua admiração por Hitler num discurso alucinado (a pensar que não foi há muito tempo que multidões afirmavam tratar-se de um génio). Ora bem esse “maluco que atira pedras”, tinha uma teoria na manga, de que o tiroteio na Escola Sandy Hook, em 2012, não passava numa encenação para beneficiarem o “lobby anti-armas”. O que aconteceu é que um grupo de pais, cujos filhos foram vítimas de tais atentados terroristas, e que Jones afirmou serem “atores pagos”, decidiram o processar pelas suas injúrias. O resultado é que Alex Jones perdeu, condenado a pagar 1,5 mil milhões de dólares. E eis que surge novamente com uma declaração … desta feita, o de falência.
Em outras bandas [Brasil], Bolsonaro avançou para o Tribunal Superior Eleitoral com “provas” de que existiam urnas com defeito técnico, e como tal era imperativo anular os votos aí recebidos. O que falhou nesta narrativa? Simples, o presidente no ativo aliou-se a vários do partido PL [Partido Liberal], muitos deles eleitos nos estados com essas mesmas urnas, solicitando a anulação da votação, apenas em segundo turno de forma a não prejudicar os elegidos. Ora se as urnas estavam defeituosas, apenas estavam na segunda volta? Pois bem, o Tribunal recusou a proposta de anulação e condenou a PL a pagar uma coima de fraude no valor de 23,9 milhões de reais (cerca de 4 milhões de dólares).
Voltando ao ponto inicial, trafulha é isto, mentiroso, charlatão, e no fundo são esquemas e esquemas que fazem parte da sua moral. O dinheiro, o centro da sua intelectualidade, é também a sua fraqueza. A sua kryptonite. Julgo que esta seja a melhor forma de combater essa barbárie institucionalizada.
"Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo do fogo das coisas que são
É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão"
Gal Costa (1945 - 2022)
Ao fim de 6 anos, Gregório Duvivier, como o próprio indica neste último episódio da sexta-temporada, ter motivos para “chorar de alegria”. O Greg News, programa de infoentretenimento que nos faz relembrar o formato de Trevor Noah ou até mesmo de Ricardo Araújo Pereira, celebrou a vitória de Lula nas presidenciais brasileiras, seja com o olho a memes vivos [“bolsominions” reagindo à derrota, muitos deles de forma lunática], seja com o monólogo emocionado do anfitrião “vencemos a milícia sem disparar uma única bala”. A minha visualização deste episódio, até para perceber o “frenesim” envolto, coincidiu com o meu visionamento do documentário “Maioria Absoluta” (1964) do realizador brasileiro Leon Hirszmann (“A Falecida”, “São Bernardo”), cineasta ligado às questões das classes sociais brasileiras, onde pude constatar a diferença os dois “Brasis”, hoje permanecidos diferentes, até mesmo na sua ida às urnas. Entre os diferentes “países” está o do litoral, branco e de postais turísticos, onde os frequentadores das suas praias opinam sobre (falta) de problemas no seu Brasil, ou por outro lado, o “problema moral” como o maior da sua nação. E o interior, de pele acostumada ao Sol, trabalhadores, 80% deles analfabetos (impossibilitados de votar) e com uma lista infinita de malfeitas nos seus quotidianos. Dois "países" geograficamente próximos, socialmente distantes, e esse interior empobrecido, o demonstrado em 1964, e ainda mantendo-se face aos "privilegiados" do Atlântico, aquele que Gregorio Duvivier agradeceu de olhos lacrimejados “Nós conseguimos”, permanece esquecido e negligenciado. O Brasil é grande, mas grande também são as suas pessoas.
O documentário foi visto na plataforma NOVOCINE, porém, visto estar temporariamente no catálogo, recomendo assistir aqui.
Bolsonaro pede a apoiantes pararem com os bloqueios e afirma que "vai respeitar a Constituição", os apoiantes mais iluminados interpretam e traduzem a mensagem como "vai haver golpe" ou "não desistem". E é isto, a estupidificação, a sempre característica da governação de Bolsonaro, demonstra, novamente, os seus frutos. Bolsonaro criou um "monstro disforme".
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